terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Sonho


"Oh Feliz quem ainda em esperanças palplita,

Do mar de desengano almeja se salvar!
Aquilo que se ignora, é o que mais nos agita,
Aquilo que se sabe, nunca há de usar.
Fazei com que estas horas plenas de ventura
Em tristeza não mudem, de repente!
Olhai como o fulgor do sol já no poente
Doura a casa e o pomar, envoltos na verdura...
Morre, renasce o sol, nova aurora descerra
E além, onde ressurge, outra vida produz.
Oh, quisera ter asas, sobrevoar a terra,
Seguindo sempiterno a sua eterna luz!
Veria assim pererne o esplendor dos poentes,
A brilharem montanhas, campo sossegado,
Rios de prata a jorrar em douradas torrentes!
Nada perturbará esse vôo nas altuas,
Nem o monte selvagem, abismos e vertentes,
Abre-se enfim o mar com enseadas ardentes,
E Meus olhos humanos fartam deslumbrados.
Além mergulha o Deus que morre no horizonte,
Desperta em mim agora um ímpeto de açoite,
Apresso-me a sorver a refulgente luz,
Ante mim vejo o dia, atrás de mim a noite,
Sobre mim vejo o céu, embaixo o mar se acalma,
Um sonho que se deslbumbra, enquanto o sol se extingue.
Ah! Como é tão difícil às asas de nossa alma
Aliarem-se as asas da matéria!
Ao homem, por nascença, é dado, nesta vida,
Deixar que a alma ascenda ao páramo a sonhar,
Enquanto sobre nós, no espaço azul, perdida,
A cotovia libra com estrídulo cantar,
E em altos, rudes cimos, de pinhos cobertos
A águia abre as asas a voejar errante
E em planícies e mares condores libertos
No horizonte procuram a pátria distante."

( Extraído de "Fausto - Uma Tragédia" - Trata-se de uma tradução dessa obra de Goethe que foi oferecida como alternativa àquela feita por Antonio Feliciano de Castilho, conhecida por muitos.)

Olá a todos... Hoje escrevo em um horário diferente do que costumava escrever - e nesse momento, mais do que nunca, poderemos considerar essa reflexão como um devaneio.

Creio pensar da mesma forma que Fausto em relação ao que sentimos naquilo que ele e todos os outros preferem chamar de "sonhos" e eu prefiro chamar de "devaneios". É muito estranho continuar caminhando nessa vida e estar separado por uma parede de vidro inquebrável do caminho que não foi tomado. Sinto poder ver as consequências de uma escolha que não fiz, mas não posso desfrutar delas. Em meu caminho apenas vejo um longo caminho cercado pelos temores do homem: o desespero, a dor, a tristeza. Mas eu continuo andando porque sei que o caminho ao lado são apenas ilusões. E essas ilusões não se tornaram reais. Pelo menos por enquanto. Fico triste em pensar que sou capaz de planejar o resto da minha vida e que para alcançar aquilo que eu chamo de sonho e que para alcançá-lo tenho que contar com fatores que não dependem de mim.

E agora sim pretendo dar uma melhor definição sobre o sonho. É a materialização de um pensamento que alimenta a alma em desespero pelo seu principal alimento - a satisfação - e que traz um sentimento extremo de felicidade ao ser. Sonho é algo que faz muitos perderem suas vidas em uma luta que muitas vezes é traçada em vão por terem chegado ao fim sem mesmo chegar perto de concretizar aquele pensamento. Muitos podem dizer que é questionável o valor de se lutar por um sonho, visto que muitas vezes ele parece ser impossível, (e eu ressalto o uso do verbo parecer e da palavra talvez, deixando claro meu questionamento sobre isso, porque eu mesmo não sei ao certo se todos sonhos são possíveis ou impossíveis de se alcançar, penso muito sobre isso, infelizmente sem encontrar boas respostas) enquanto podemos optar por escolher viver de outra forma, diferente daquela vida de batalha pelo próprio sonho, apenas lidando com as coisas que aparecem em nossas vidas, sem pensar muito sobre o futuro. No entanto, acredito que esses dois caminhos tenham suas vantagens e desvantagens. Vale a pena comparar. Sendo assim, reparando as possibilidades de escolha e os resultados, temos: Primeiro - lutar pelo sonho, e alcançá-lo; Segundo - lutar por ele e não alcançá-lo, e finalmente, Terceiro - optar por não lutar por ele, e apenas seguir um caminho qualquer, entregando-se à sorte para alcançá-lo. Escolher em entrar nessa luta pelo sonho é algo que requer muita determinação. E a partir daí o sucesso nessa missão será determinado pela vontade em alcançar o sonho e pela habilidade de alguém em lidar com o inesperado. Mas isso não é tão simples como se parece quando falamos ou escrevemos. Relembrando a carta de aprendizado transcrita no primeiro devaneio - "Agir é fácil, difícil é pensar. Incômodo é agir de acordo com o pensamento." - e daqui partiremos para a outra opção: se entregar para a sorte. Fazer isso é optar apenas pelas ações e abdicar dos planejamentos para agir. Não é algo ruim, visto que você pode aproveitar mais cada momento, mas é muito incerto o alcance do sonho por esse caminho.

Acredito ter feito a minha escolha: lutar. Já disse inúmeras vezes, para diversas coisas que eu não gostaria de ter abandonado, as palavras ''eu sacrifico'', tudo para poder alcançar o sonho. Ele ainda está muito longe de se concretizar, mas acredito que alguns desses sacrifícios foram cruciais para que eu continue a caminhar na direção dele. Pelo menos por enquanto acredito que serei feliz no final de tudo, independente de ter alcançado o sonho ou não. Talvez no final toda a luta não tenha sido em vão, porque ao menos me foi dada a oportunidade de acreditar que eu posso lutar pelo meu sonho. Isso é uma dádiva que não foi dada para todos.

Agradeço mais uma vez pela atenção e principalmente pela paciência dos leitores e leitoras.

Até o próximo devaneio...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Escolhas

Saudações aos leitores e leitoras,

Primeiramente gostaria de justificar a demora para continuar o raciocínio da última reflexão registrada aqui. Nos últimos dias fui tomado por um sentimento muito difícil de se definir com poucas palavras, talvez seria uma mistura de angústia e incerteza, que me tornou incapaz de organizar minhas idéias, fazendo com que eu parasse com as publicações dos devaneios. Creio que os acontecimentos relacionados a causa desse problema renderão novos devaneios, como já estão acontecendo agora. Ficaria muito triste de imaginar que vocês pensaram que eu tivesse desistido da proposta inicial deste espaço, que é registrar as reflexões e através da reunião delas obter novos pontos de vista sobre assuntos diversos.

Dada essa justificativa, a qual terá melhor força argumentativa depois que eu terminar essa postagem, gostaria de esclarecer melhor o intuito de tantas definições das palavras que são discutidas aqui. Para possibilitar uma melhor compreensão da minha própria mente, creio que seja muito pertinente tentar seguir a linha de raciocínio dela. Dentro dessa ótica, as palavras possuem significados diferentes daqueles que são atribuídos pelo senso comum e até mesmo pelos próprios dicionários. Mas o fato de serem diferentes não implica em dizer que sejam contrários aos significados considerados ''padrões''. Usando esses novos significados eu tento evitar que os leitores possam compreender de forma equivocada meu raciocínio ao cair na ótica usual de interpretação.

[A partir daqui, ressalto aos possíveis novos leitores que é grande a importância da leitura das reflexões passadas antes de prosseguir com essa última, para que seja possível a compreensão do que vai ser registrado a seguir.]

Agora podemos concluir o que foi iniciado anteriormente. Naquela representação da vida como um plano de papel descrita na última reflexão, havia deixado claro o quanto as ironias provocadas pela entidade que chamei de destino provocou no meu traçado sobre aquele plano. Foi como olhar para o papel depois de ter feito parte do desenho e visto que ele fugiu completamente do esperado, e que ele não possuía sentido algum, porque não estava completo. Faltavam poucos traços para ligar aquele desenho irregular e imprimir algum significado nele. Os traços foram materializados na mente, e foram levados com vontade até o braço, que precisava mover a caneta para concluir sua idéia, coisa que no entanto não ocorreu. Senti que meu braço não se mexia mais nas direções que eu imaginava, e sim de maneira irregular, piorando o projeto do desenho que eu tanto imaginei. Poderia essa ser uma nova ironia feita pelo destino? Ter feito um plano e não conseguir colocá-lo em prática? É lamentável dizer que isso aconteceu.

No entanto, aquela minha "esperança pessimista'' me ajudou a observar que não existe uma única maneira de representar um certo desenho. E por isso coloquei em minha mente um novo plano, e dessa vez meu braço conseguiu se mover para continuar com os primeiros novos traços, para ver o mesmo desenho no final, talvez feito com mais detalhes e visto de outro jeito.

Nessa situação, aprendi que é necessário ter muito cuidado as decisões que tomamos para nossas vidas. O destino pode ser o mesmo no final, entretanto, entre o presente e o futuro envolve-se uma quantidade de tempo que pode variar dependendo das escolhas que fazemos. Sejamos cautelosos com cada passo que damos, com cada traço que fazemos, porque o tempo gasto de maneiras diferentes com certeza vai implicar em resultados diferentes. O traço rápido é fraco, e aquele que é dado devagar, mas com força e cuidado é um traço bem feito e produz bons desenhos.

Encerrando, pelo menos por enquanto, as reflexões acerca do destino, devemos lembrar que por mais difícil que esteja a situação, sempre podemos fazer escolhas. Por pior que elas pareçam, devemos lembrar que podemos fazer as escolhas para que no final tudo termine não como planejamos, mas sim de um jeito satisfatório, e não dependendo do destino, seja ele qual for.

Agradeço a todos pela paciência em ler e acompanhar tudo isso.